sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Passeata no centro une 2 mil por mudanças na USP

São Paulo – Formada por diversos partidos políticos, correntes de pensamento e grupos estudantis, a passeata de estudantes, professores e funcionários da Universidade de São Paulo (USP) na tarde desta quinta-feira (10) na capital paulista unificou o discurso apenas em alguns pontos: o fim do convênio da USP com a Secretaria de Segurança Pública, a não punição dos estudantes que ocuparam a reitoria e a saída do reitor, João Grandino Rodas. 

Passeata no centro une 2 mil por mudanças na USP
A passeata foi encabeçada pelos 73 estudantes removidos da Reitoria da USP na madrugada da última terça-feira (8) e mantidos durante todo o dia em espera em um ônibus e depois levados ao distrito policial. Os cerca de dois mil manifestantes seguiam atrás e em coro: "Rodas, a culpa é sua. A aula hoje é na rua". A passeata, que teve seu início da Faculdade de Direito da universidade, no Largo São Francisco, centro de São Paulo, percorreu algumas ruas da região.
Munidos de cartazes com palavra de ordem, os estudantes pediam o fim da repressão policial no campus da USP e reivindicavam a saída imediata da PM da Cidade Universitária - o convênio entre as instituições foi firmado no mês de setembro. Para a estudante de letras Debora Manzano, a maneira com que a polícia agiu contra os alunos que ocuparam a reitoria desde a última semana chocou a todos, inclusive aqueles que não concordavam com a decisão de ocupar o prédio. Para ela, a ação foi brutal e deixou um clima de medo e insegurança no campus.
"Apesar de muitos estudantes não concordarem com a ocupação, aquilo tudo foi muito impactante para todo mundo. Nós somos a favor de seguranças, mas sem militarização da universidade. Queremos outras medidas que podem aumentar a segurança sem que situações como essa ocorram novamente."


Já para Alexandre Soares Carneiro, professor do Departamento de História e Geografia, é necessária uma nova política de segurança que priorize a constituição de uma guarda universitária treinada para tratar dos problemas da comunidade e evitar que esses conflitos se tornem sistemáticos se policiais que não têm cultura de respeito à cidadania continuarem na universidade. "A cultura da PM não é para tratar a cidadania com o respeito que merece. A PM é uma tropa herdeira dos traços do autoritarismo militar da época da ditadura", destaca o professor.

Carneiro critica a maneira como foi escolhido o reitor da USP que, de maneira indireta, foi empossado pelo ex-governador José Serra (PSDB). Como é de praxe na universidade, uma lista tríplice é enviada ao chefe do Poder Executivo após votação em que têm o maior peso os professores de alta hierarquia, com proporção quase insignificante de alunos e funcionários, além dos docentes mais novos. Ainda assim, Serra contrariou a convenção informal com a instituição de respeitar o nome que liderasse a lista tríplice – Rodas foi o segundo, em uma nomeação que não ocorria desde os tempos de Paulo Maluf, em 1981.
"Ele não representava um nome mais forte, mas um nome mais de direita e articulado com a doutrina política do governo, que é profundamente antidemocrática e que trata os movimentos sociais com repressão", argumenta. A escolha de Rodas se deu meses após a ação policial violenta na Cidade Universitária contra um grupo de alunos e funcionários que realizava um protesto. A operação, ordenada pela então reitora, Suely Vilela, não ocorria desde o regime autoritário.
Para o professor de história, o que ocorreu na desocupação da reitoria não foi uma violência gratuita. O episódio foi usado como um símbolo para acenar aos estudantes e para todos os movimentos sociais que a polícia de São Paulo vai adotar uma "linha de mão dura" e que isso vai ser aplicado tanto para moradores de rua, sem-teto, camelôs e até mesmo nas greves.

Para Débora Manzano, pontos estruturais poderiam resolver o problema, que se estende há tanto tempo, como melhor iluminação, a livre entrada de pessoas no campus e, ainda, rever a questão do transporte público, como ônibus e metrô. Segundo Carneiro, a reitoria tem prioridades diferentes das estabelecidas pela comunidade universitária.

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