domingo, 19 de junho de 2011

'Marcha das vadias': Mulheres saem às ruas para lutar contra o estupro


O DCE FTC defende a autonomia do corpo da mulher e a plena escolha sobre seu destino e sua vida. Encarando a questão do aborto não como um crime e sim como uma questão de saúde pública que deve ter atenção especial às mulheres jovens que são as maiores vítimas de abortos inseguros e que levam à morte. Já o estrupo agride tudo que acreditamos quanto a respeito e direitos humanos. A mercantilização do corpo e da vida das mulheres, que as coloca enquanto objetos, aliados à visão medíocre e culpabilista da polícia do Canadá, reforça o machismo e patriarcado em nossa sociedade. Repudiamos todos os atos que subjugam as mulheres e ferem sua autonomia. O DCE FTC combate tais práticas e saúda a todas e todos que participam das manifestações contra o machismo e sexismo.



Manifestação aconteceu na tarde do sábado (4), na Avenida Paulista.Objetivo é alertar a sociedade sobre o machismo. Paulo Toledo Piza  Do G1 SP

Com faixas e cartazes, mulheres se concentram para a Marcha das Vadias na Avenida Paulista (Foto: Paulo Toledo Piza/G1)Com faixas e cartazes, mulheres se concentram para a Marcha das Vadias na Avenida Paulista (Foto: Paulo Toledo Piza/G1)


Mulheres com saias curtas, de salto alto e até só de calcinha e sutiã se reuniram na tarde deste sábado (4) na Praça dos Ciclistas, na Avenida Paulista, em São Paulo, para uma manifestação inusitada: a Marcha das Vadias. A ideia da brincadeira surgiu após um policial afirmar, durante uma palestra em uma universidade em Toronto, no Canadá, que as mulheres deveriam parar de usar roupas de vadias (ou slut, em inglês) para evitar estupros.

A opinião do policial teve grande repercussão e marchas semelhantes ocorreram em todo o mundo. Uma das idealizadoras da manifestação paulistana, a escritora Solange De-Ré, de 30 anos, afirma que o objetivo é fazer com que a sociedade reflita sobre o machismo. “Em uma mesma família, o menino tem toda a liberdade para se mostrar. A mulher, não. O machismo não vem só dos homens, mas das mulheres também, que julgam as outras mulheres.”
Bom humor e pouca roupa foram as marcas registradas das manifestantes na marcha (Foto: Paulo Toledo Piza/G1)
Ela lamenta a violência contra as mulheres –fato que em sua opinião é uma realidade mundial. “Tem mulheres com burca que acabam sendo estupradas. Isso tem que acabar.”
Bom humor e pouca roupa foram as marcas
registradas das manifestantes na marcha
(Foto: Paulo Toledo Piza/G1)






A versão paulistana da marcha foi mais recatada do que as equivalentes estrangeiras. “A gente não quer carnaval. A gente quer que as pessoas se vistam normalmente, como elas gostam de se vestir”, disse a publicitária Madô Lopez, de 28 anos, co-responsável pela marcha. O que mais chamou a atenção entre os cerca de 300 participantes foi a grande quantidade de cartazes contra o machismo e a favor do respeito entre os gêneros. Além disso, um grupo de mulheres animava o público usando tambores improvisados em baldes para produzir música.


Apenas uma jovem foi mais ousada e encarou a fria tarde de sábado vestindo apenas calcinha e sutiã. A estudante Emilia Aratanha, de 23 anos, justifica a vestimenta: “Independentemente do que você usa, em primeiro lugar vem o respeito.” 











Participantes da marcha exibiram cartazes contra o machismo e a favor do respeito entre os gêneros (Foto: Paulo Toledo Piza/G1)




Quem nunca foi censurada pelo tamanho de sua saia atire a primeira pedra! Quem nunca ouviu uma cantada mais grosseira na rua por usar um decote ou foi apontada - mesmo por mulheres - como "vagabunda" por seus trajes ou por ter vários parceiros? O comportamento feminino é ainda hoje extremamente condenado a andar conforme as regras da sociedade, que por sua vez, continua supermachista. Uma das principais feridas abertas pelo preconceito e pela repressão às mulheres é o estupro. Para lutar pelos direitos das mulheres e pela liberdade, acontece no próximo sábado, 4 de junho, em São Paulo a "Marcha das Vadias".
No começo do ano, em Toronto, no Canadá, um policial fez na televisão local uma declaração que mostra de forma clara como o mundo ainda encara a questão. Ao orientar as universitárias para que evitassem o estupro, ele "sugeriu" que elas não "se vestissem como vagabundas". A revolta foi instântanea e mulheres de todo o mundo se organizaram e criaram a "Slut Walk", ou em bom português, a "Marcha das Vadias".
O manifesto já passou por vários países, incluindo Argentina, Estados Unidos, Grã-Bretanha, Holanda e Nova Zelândia. Milhares de mulheres gritaram ao mundo que são donas de seus corpos e não aceitam a opressão social a que somos todas submetidas diariamente, em nossa casa, trabalho, vizinhança, escola ou universidade. Colocar a culpa no comportamento feminino reforça o esteriótipo machista das mulheres "de bem" e as "vadias", que teoricamente, agem de certa maneira para se expor e estão sempre à procura de sexo.
Simultaneamente ao Brasil, mulheres de Los Angeles, Chicago, Edmonton, Estocolmo, Amsterdã e Edimburgo também vão às ruas pedir respeito e reforçar que são elas as donas de seus corpos, com direito de fazer com ele o que quiserem, inclusive sexo, com um ou vários parceiros.
"A marcha diz que a mulher tem direito a sua sexualidade, que essa sexualidade deve sempre ser respeitada, e que é absurdo esse padrão duplo de sexualidade, isso de uma mulher que faz sexo ser vadia, e um homem que faz sexo ser um garanhão. É muito fácil ser chamada de vadia - basta ser mulher. E a Marcha diz: sim, somos mulheres, fazemos sexo, temos orgulho, vai nos chamar de vadias por isso? É um enfrentamento, mas ao mesmo tempo, pelas fotos que vi, é uma manifestação festiva que, ao menos em Toronto e Boston, teve a participação de muitos homens, de famílias inteiras" aponta Lola Aronovich, feminista e dona do blog "Escreva, Lola, escreva", onde trata do tema.
A questão do estupro, claro, vai muito além. "Acho que nós mulheres falamos bastante sobre estupro. Faz parte do nosso cotidiano. Pelo menos a ameaça está sempre presente, e ela tolhe a nossa liberdade. Mas e os homens? Quando que eles vão falar sobre estupro? Quando irão encarar sua responsabilidade em mudar um quadro que é tão desolador para a sociedade?", questiona Lola.

"Vivemos numa cultura de estupro, em que a publicidade e a mídia em geral vivem enviando mensagens de que estupro é glamuroso, de que as mulheres gostam, de que é uma velha fantasia feminina. A pornografia lucra muito com isso: os homens são grandes consumidores de vídeos onde estupros são simulados. Chegamos num ponto em que se digitarmos no Google "moça estuprada pelo pai", seremos levados a sites de pornografia, não a sites de ajuda a essas vítimas. Isso, pra mim, é cultura de estupro", declarou a blogueira.
Estatísticas 
Apenas no primeiro trimestre desse ano, em São Paulo, 3585 mulheres foram estupradas, de acordo com a Secretaria Estadual de Segurança Pública. No Rio de Janeiro, 1246 já foram violentadas, e o número apresentou aumento entre janeiro (396) e março (434), de acordo com dados do Instituto de Segurança Pública, o ISP. Na maioria das vezes, o estuprador é alguém conhecido, o que torna o crime ainda mais cruel e prova concreta do pensamento machista de possessão do corpo da mulher. 
"É preciso ampliar o debate que temos sobre estupro. Nós mulheres aprendemos desde cedo que é perigoso andar sozinha, é perigoso vestir tal roupa, é perigoso sair de casa à noite. Mas boa parte dos estupros acontece dentro de casa: 80% dos estupros são cometidos por pais, padrastos, tios, primos, namorados, amigos, chefes, etc - enfim, por conhecidos da vítima", acrescenta Lola, que também é professora de Literatura na Universidade Federal do Ceará.

Recentemente, o humorista do CQC, Rafael Bastos, foi infeliz ao fazer piada com o tema e declarar que as mulheres feias deveriam "agradecer" por terem sido estupradas. O assunto virou assunto em todos lugares, da mídia até a mesa do bar, onde, apesar da grande revolta popular com as declarações de Rafael, alguns mostraram-se a favor do humorista, por considerar o que ele faz "humor".
Mas será que não há llimites para fazer graça? Lola e milhares de mulheres garantem que sim. "Esses humoristas "moderninhos" acham que são inovadores, mas vivem à base de regurgitar velhos preconceitos. Estupro tem muito mais a ver com violência, com humilhação, com uma relação de poder, que com sexo. Declarações como essa perpetuam velhos preconceitos, que já passaram da data de validade para expirar", completou.

Fotos diversas: 







 

 







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